Vida de um otaku no Japão!

Este é um texto que eu escrevi há um ano, para um projeto de revista sobre cultura japonesa, à pedido do Ricardo Cruz, mas que infelizmente não foi pra frente. Eu teria uma coluna pra comentar sobre minhas andanças no Japão, eventos e compras, praticamente uma extensão do meu próprio blog. Achei interessante compartilhar um pouco do meu início aqui no Japão.

Quando vim ao Japão, em agosto de 2000, cheguei aqui com aquele pensamento da maioria dos dekasseguis (descendentes que vem ao Japão a trabalho), guardar muito dinheiro e um dia retornar ao meu país. Não gastaria com luxuria e se precisasse, viveria de “pão e água”. Bem, essa idéia durou até eu receber o meu primeiro salário! A partir daí, eu não consegui mais poupar dinheiro, sendo influênciado pela cultura do consumismo. Gradativamente comecei a me transformar num otaku japônes, comprando brinquedos, figuras, games, DVDs, e tantos outros materiais que eu não pensava em adquirir. Acho que a persuasão da propaganda japonesa é muito forte, fazendo com que as pessoas gastem mais do que necessitam.
Em março de 2001, após já ter me adaptado ao Japão, aprendi a andar de trem, e passei a frequentar vários eventos na região de Tokyo. Até hoje não me esqueço do meu primeiro evento, o Tokyo Game Show, o maior evento de games do Japão. Fiquei totalmente deslumbrado com a extrutura dos japoneses, muito organizados. [Como era meu primeiro evento, não sabia se era permitido ou não tirar fotos. Daí, não comprei uma câmera descartável]. Também não me esqueço da primeira vez que estive frente a frente com atores de tokusatsu, numa sessão de autógrafos. Foi em agosto de 2001, no 5º Tokyo Toy Festival, em Ariake (Tokyo). Mesmo depois de ter feito uma jornada de trabalho noturno, tive fôlego pra ir ao evento, pois sabia que a atriz Kayoko Shibata (Gogo Five/Go Pink) estaria lá, mas para minha surpresa, quem apareceu também foi o Ryuichiro Nishioka (Go Red). Com tanta empolgação, quando chegou a minha vez, não sabia ao certo o que dizer. Então disse a Kayoko que eu era um grande fã dela, o que soou como uma mentira, pois até hoje nunca assisti um episódio de Kyukyu Sentai Gogo Five. Nessa época eu tinha uma mania de pegar autógrafos de quem quer que fosse, bastando ser atores de tokusatsu. Hoje eu me tornei uma pessoa mais seletiva, mesmo porque os autógrafos são pagos no Japão. É, isso mesmo, você não ganha as assinaturas e sim as compra! Isso faz parte da cultura japonesa, pois os artistas ganham comissão. Pode parecer anti-ético para os brasileiros, mas é apenas questão de diferença cultural. Sempre digo aos artistas que sou brasileiro, e eles ficam pasmos. Alguns não sabem o que responder. Pelas minhas contas, já recebi uns 20 autógrafos, mas o número de artistas que já vi em pessoa é bem maior. De todos, os que eu fiquei mais feliz em conhecer foram Susumu Kurobe (Ultraman), Hiroshi Miyauchi (Kamen Rider V3) e Tetsuo Kurata (Kamen Rider Black). Extremamente atenciosos e humildes. [Nas fotos, meus dois primeiros autógrafos, sem dedicatória].
Ainda falando do Tokyo Toy Festival, lembro-me de ter gastado uma fortuna em brinquedos, aproximadamente ¥60 mil num único dia. Havia comprado várias coisas, dentre eles, o robô Devastador dos Transformers, talvez o brinquedo mais caro que eu já tenha comprado, ¥35 mil. Como o produto estava lacrado, desde 1986, o preço ficou valorizado. [Na imagem, as 6 caixinhas dos Constructicons (Devastador), ainda com o preço de ¥35000 colado. Ao lado, o Convoy, ralançado em 2000. Este foi o meu primeiro brinquedo no Japão]. Hoje, quase não compro mais nada em eventos, pois era coisa de momento. Acho que já tenho o que eu realmente precisava. Em setembro de 2002, fui convidado por dois amigos a ir até Akihabara, o bairro dos eletrônicos, em Tokyo, que eu conhecia só de nome. Foi amor a primeira vista. Akihabara é conhecido como a “Terra Sagrada dos Otakus”, por reunir diversas lojas de hobby, quase uma do lado da outra. Vou pra lá no mínimo uma vez por mês. Os meus gastos só dobraram.
Hoje, morando sete anos aqui no arquipélago, as vezes me sinto mais japonês do que brasileiro. Ir a eventos e conhecer artistas já não me emplogam tanto quanto antigamente. A cada ano as situações se repetem, os mesmos hábitos, os mesmos eventos... Ainda assim, encontro motivação para continuar, sempre tentando descobrir alguma coisa de diferente!